Brasil debate com outros países da América Latina o aumento dos casos de intolerância religiosa como
- Dine Estela
- 1 de dez. de 2022
- 5 min de leitura
O CEAP recebeu pela primeira vez no Brasil, a Red Latinoamericana y del Caribe por la Democracia - REDLAD
Vários lideres religiosos do Brasil e de vários países da América Latina e do Brasil se reuniram na casa de Axé Templo de Jagun, Bonsucesso no Rio de Janeiro, na tarde desta quarta, 30, para a troca de experiências no campo da intolerância religiosa com vistas a um trabalho colaborativo de combate entre vários países da América Latina.

O CEAP e a CCIR receberam representantes da Rede Latino-Americana e pela Democracia (REDLAD) que está no Brasil pela primeira vez para estreitar relações e conhecer o trabalho do CEAP (Centro de articulação as populações Marginalizadas e a CCIR (Comissão de Combate à intolerância religiosa) que já tem um reconhecimento internacional de luta contra a intolerância religiosa. O programa de História Comparada da UFRJ através do professor Dr. Orientador Ivanir dos santos, também está encampando esta pesquisa no Brasil através de vários estudos nesta área com o propósito de chamar a atenção da sociedade civil e das autoridades públicas para os riscos antidemocráticos diante do crescimento dos casos de intolerância religiosa em toda a sociedade, e em vários continentes.

Como nos explicou, Diana Silva, Colombia - Este é um componente fundamental para diminuir a violência e faz parte de vários processos de luta e trabalhos. “Não estamos apenas falando de nossos processos de violência, mas como estamos lidando com eles através deste intercâmbio trocando experiências na busca de novas maneiras de luta. Entendemos que esse trabalho de pesquisa internacional é muito valioso”, destacou.
No encontro o prof. Dr. Ivanir dos Santos, que representou o CEAP e o CCIR, duas organizações não governamentais de luta contra a intolerância no Pais, falou do novo relatório de casos de intolerância que será apresentado e publicado no próximo ano em parceria com a UNESCO.
_ Já publicamos dois relatórios sobre casos de intolerância religiosa e estamos indo para o terceiro, desta vez em parceria com a UNESCO que nos apresentará um panorama atual dos casos de intolerância religiosa, não somente às religiões de matriz africana, mas as diversas outras religiões no país. Este relatório tem sido produzido por técnicos formados pelo IBGE e geógrafos parceiros. O novo relatório sobre a intolerância religiosa desta vez em nível nacional, será publicado pela UNESCO. Este relatório também vai revelar ações necessárias para contribuir na defesa das liberdades dos povos indígenas e judeus, além de outros.
A CCIR é um coletivo da sociedade civil que nasceu em 2008, a partir de vários acontecimentos em torno da ação de traficantes evangélicos que estavam expulsando os religiosos de matriz africana das comunidades. Os noticiários começaram a falar sobre essa situação que já acontecia desde a década de 90, sem muito destaque como relembrou o professor Dr. Babalawô, Ivanir dos Santos.
_ Quando a imprensa se deu conta desse processo de expulsão, já era muito flagrante, mas o fato já vinha acontecendo desde a década de 90 dentro das comunidades, muito por conta do segmento neopentecostal.
Lembro que a Fatima Damas fez uma reunião com vários religiosos e ali, começamos a protestar e buscar audiência publica chamando as autoridades para tomar uma atitude sobre a situação. Nenhuma autoridade apareceu na audiência, depois fomos para um ato publico na escadaria da câmara e depois fizemos a nossa primeira caminhada na orla de Copacabana. Muitos acharam que tínhamos que fazer na Baixada, mas lá não viraria noticia, infelizmente.
A comissão para a realização da caminhada começou a receber várias denúncias sobre intolerância religiosa, então tivemos a ideia de abrir para a participação de várias religiões que também sofriam pela intolerância e todos que eram simpatizantes da causa. Colocamos 20 mil pessoas na rua e a minoria era da nossa religião, fato curioso na época para nós. Isso foi realmente marcante para nós.
Não era uma caminhada contra ninguém, era uma caminhada pela liberdade religiosa. Então tinhamos um diálogo inter-religioso e o próprio estado passou a querer dar repostas com a criação de conselhos, dentre outras ações que não tiveram grande vulto, mas que foram estimuladas por nossas ações.
Tinha um grupo que atrelava o crescimento do fascismos através do campo religioso. Mas se tem um grupo que sempre foi perseguido foi o das religiões de matriz africanas, seja pela operações Filipinas, na primeira constituição do próprio império que assumia a igreja católica como religião oficial, e as práticas era punidas já no Código penal de 1830 ou pelo último governo que passou pelo país. As peças no Museu da República que foram tomadas dos terreiros, são a prova material de toda a perseguição e a falta de respeito até hoje com nosso sagrado. Essas peças deveriam ser devolvidas aos seus guardiões. Destaca.
Precisamos chamar a atenção para isso com a produção do conhecimento e por isso fui para a academia mesmo já aposentado do serviço público para sistematizar a minha experiência e hoje contamos com o programa de história comparada da UFRJ no campo das pesquisas. Destacou.
O novo relatório deverá ser lançado no dia 21 de janeiro em um grande ato público em homenagem ao Dia Nacional de Combate à Intolerância religiosa e irá contar ainda com atividades culturais, shows e debates sobre o novo panorama nacional de casos de intolerância religiosa.
Pedro Chagas, sacerdote de uma casa que existe há 70 anos, lembra da época severa da ditadura. “Eles autorizavam o funcionamento autorizava a prática religiosa mas não podíamos tocar o tambor em 1953. Tenho tudo isso documentado. Perdi no ultimo dia 2 de abril um filho de santo por conta de intolerância e uma vez um cidadão adentrou o espaço religioso e disse que eu não iria concluir o trabalho. Eu somente consegui voltar a realizar o culto lá com a ajuda da DEGRAD e do prof. Ivanir e ainda assim o cidadão ainda continuou peitando e só depois da chegada dos policiais ele permitiu ele ainda disse que agora sim eu poderia porque a polícia havia permitido. Isso não aconteceu somente comigo que sou do candomblé”, lembrou.
Mãe Tânia Jandira: militante da CCR, é psicóloga e já presenciou vários casos de violência contra religiosos. “Minha primeira vítima foi uma senhora de 80 anos que teve um revolver na cabeça e foi obrigada a quebrar seus objetos sagrados. Minha orientação não pensa o indivíduo separado da sociedade. Eu trabalho em organizações não governamentais e trouxe essas experiências para fazer um trabalho de atendimento as vitimas de intolerância no CCIR. Nós presenciamos o fenômeno da invasão dos terreiros pelo tráfico de drogas que acontece há 15 anos. Já aconteceu de termos 40 terreiros expulsos apenas de uma comunidade no Rio de janeiro. Uma vitória de nossa luta foi conseguir uma delegacia especializada”, lembra.
_ O Brasil já conta com várias leis de proteção à liberdade religiosa, como a Lei CAÓ, mas também tem muitas outras que trabalham contra as religiões de matriz africana como as que enquadram a entrega das oferendas na natureza como crime ambiental, por exemplo. Destacou Tania Jandira. Agravado pelo fato fato dos advogados e defensores publicos não têm conhecimento mais aprofundado sobre as leis em defesa destas vítimas. Acrescentou Tânia.
Várias atividades estão previstas para janeiro, entre elas, uma mesa de debates internacional sobre intolerância religiosa e uma mesa na Argentina para falar de direitos humanos, além do lançamento do novo relatório nacional sobre intolerância que será lançado em ato público no dia 21 de janeiro.
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