Mudança nas cores do Brasão de Queimados pode ter cunho político
- Dine Estela
- 2 de jul. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 3 de jul. de 2021

Subjugando todo o legado histórico do brasão da cidade de Queimados, a prefeitura vem apresentando através de algumas peças publicitárias e até mesmo em foto de perfil nas redes sociais de algumas secretarias, como a de Cultura, que deveria ser a protetora nata deste símbolo cultural, uma versão totalmente deturpada do brasão de Queimados nas cores azul e branco, usurpando parte da história e da cultura da cidade.
Mas não é somente a cultura que apresenta a nova versão do brasão, a saúde também está usando a arte como assinatura oficial do governo em suas peças publicitárias e ao que tudo indica, pode haver uma conotação politica por trás desta mudança que denota uma campanha extemporânea bolsonarista do executivo municipal.

Sabe-se que existe uma licença para a apresentação em preto e branco ou vazada de artes para compor certas peças. Exemplo: Uma logo toda branca para um fundo preto, o que não foi o caso da arte de capa do facebook da secretaria. Não se teme um brasão branco ou vazado em um fundo todo azul. Neste caso, foi criado um fundo azul quadrado com linhas laterais brancas de adorno, para então inserir um brasão branco ao centro. Desconsiderando as cores originais do objeto.
O brasão, assim como a bandeira e o hino foram criados tão logo a cidade emancipou-se, e foi instituído através da Lei Municipal 40/1993. Para tal, foi realizado um concurso público em que participaram 33 candidatos. Assim como a bandeira, o brasão é de autoria de Luciano Damasceno da Costa, na época estudante do 2º ano do ensino médio técnico em informática do Centro Educacional Betel I.
Os 33 trabalhos foram analisados por uma comissão indicada pelo Colégio Brasileiro de Genealogia e Heráldica do Rio de Janeiro. Dentre as exigências estavam a de que o brasão deveria conter dados econômicos, geográficos e históricos da cidade, assim como cada símbolo e figura apresentadas no brasão tem um significado e um sentido de ser, buscando destacar os elementos pátrios e os fundamentos de sua descrição. Inclusive as cores escolhidas para compor a peça histórica da cidade através das técnicas da Heráldica que prevê um conjunto de regras para se construir essa identidade cultural.
Brasões são considerados parte do patrimônio do ente contemplado e parte de sua imagem pública. A partir desta realidade, surgiu a necessidade de se legalizar e controlar os brasões concedidos e eliminar as repetições ou usurpações. O termo heráldica provém dos próprios heraldos, que na Idade Média desempenhavam também, entre outras, a função de diplomata.
Prefeitura de Queimados apresenta o brasão e o nome da cidade nas cores do Movimento Aliança pelo Brasil (APB)

A mera semelhança pode não ser uma conscidencia. A Aos olhos mais atentos é possível observar um cunho político na mudança das cores, tanto do brasão, quanto na fonte que descreve o nome da cidade, que destaca as cores do Movimento Aliança pelo Brasil (verde e amarelo). O Aliança pelo Brasil (APB) é uma organização política brasileira que pretende se transformar em partido político. Foi anunciada por Jair Bolsonaro, em 12 de novembro de 2019, durante o exercício do mandato de presidente do Brasil, ao declarar a sua saída do Partido Social Liberal (PSL), gerando uma cisão nesse.
Conheça a importância das cores e elementos expressos no Brasão de Queimados

1) É encimado por cinco torres, representando, simbolicamente, um município.
2) Na lateral esquerda, um elemento que representa a cultura do milho. À direita, observamos elemento que representa a cultura da mandioca. A presença de tais símbolos, nos remete aos primórdios da colonização, onde a região destacou-se como produtora de tais gêneros, visando o abastecimento local e do Rio de Janeiro.
3) Unindo os elementos representativos das culturas de milho e mandioca, um listel (espécie de faixa), contendo o nome da cidade e duas datas: 1858 e 1990. A data mais recente, alude à conquista da emancipação política. Nos chama a atenção a data de 1858, balizando a chegada da Estrada de Ferro à localidade, o que, no imaginário popular, assinala a criação do povoado e o primeiro sinal de progresso que chegou à região.
4) No escudo, observamos que o primeiro terçado (o escudo é dividido em três partes) encontram-se elementos que representam a citricultura, principal fonte econômica da região na primeira metade do século XX, e a citada ferrovia, que ligou Queimados ao Vale do Paraíba e ao Rio de Janeiro, ainda no final do século XIX.
5) No segundo terçado, temos representado o relevo típico da região, com maciços em forma de "meias laranjas", isto é: pequenos morros arredondados. As cinco estrelas amarelas representam vilas que deram origem ao município: Vila das Mangueiras, Vila das Porteiras, Vila dos Bambus, Vila de Tinguá e Vila de Camorim. Ressaltamos que, algumas dessas localidades foram bairros formados a partir do fracionamento das terras da Fazenda do Weimschenck (Fanchém), quando do colapso da citricultura, a partir da década de 40. O Dr. Guilherme Weimschenck, dono das terras, foi um dos grandes produtores de laranja da região. Com o loteamento das terras da antiga propriedade, várias ruas abertas nesse contexto receberam o nome de funcionários da fazenda: a singela homenagem, hoje pode ser um dos pontos de partida para uma pesquisa da História Local.
6) O terceiro terçado traz um elemento iconográfico que representa uma fábrica, aludindo à implantação do Parque Industrial, na década de 70, às margens da Rodovia Presidente Dutra. Fonte: VÁRIOS. Queimados: do sonho à realidade. SMECD/Queimados: s/d.
A importância das cores do brasão
Mesmo a questão das cores, não estando na descrição do brasão, a Sociedade Brasileira de Heráldica e Humanística prevê algumas regras muitas restritas para a utilização e reprodução das cores de um brasão, fatores que foram considerados imperiosos para o artista na hora de aprovar a sua proposta de brasão sob as orientações da Heráldica.
Esmaltes são as cores usadas na heráldica, embora haja certos padrões, chamados peles, e representações de figuras em suas cores naturais, ou da sua cor (distintas das cores representáveis), que também são tratados como esmaltes. Como a heráldica é, em sua essência, um sistema de identificação, a convenção heráldica mais importante é a regra da contrariedade das cores (fr:Règle de contrariété des couleurs, en:Rule of tincture): em prol do contraste e da visibilidade, metais (que geralmente são esmaltes mais claros) nunca devem ser postos sobre metais, e cores (que geralmente são esmaltes mais escuros) nunca devem ser postos sobre cores.[17] Na prática sempre ocorreram exceções, que não eram raras. No Armorial Siebmacher cerca de 7% dos brasões violam esta regra.[18] Uma exceção famosa é a das armas do Reino de Jerusalém, que consistem numa cruz de ouro em fundo prata. Quando uma figura sobrepõe uma parte do fundo do escudo, a regra não se aplica.[17]
Os nomes usados na brasonaria lusófona para as cores e metais provêm principalmente do francês. Os mais comuns são Jalde ou Or (ouro), Argento (prata), Blau ou Azure (azul), Gules (vermelho), Sable (preto), Sinopla ou Vert (verde) e Purpure (púrpura). Outras cores são utilizadas ocasionalmente, normalmente para finalidades especiais.[19]
Certos padrões chamados peles podem aparecer num brasão, e são (de modo um tanto arbitrário) classificados como esmaltes. As duas peles comuns são o Arminho e o Veiro. O Arminho representa a pelagem hibernal do arminho (branca com a cauda preta). O veiro representa um tipo de esquilo que tem o dorso azulado e o ventre branco. Costuradas lado a lado, formam um padrão alternado de formas azuis e brancas.[20]
Figuras heráldicas podem ser representadas em suas cores naturais. Muitos objetos da natureza, como plantas e animais, são descritos como de sua cor neste caso. Figuras de sua própria cor são muito frequentes como timbres e suportes. O abuso do esmalte de sua cor é visto como uma prática viciosa e decadente.
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