Série: Escritos Históricos: Raízes de um paradigma indiciário
- Dine Estela
- 9 de ago. de 2021
- 2 min de leitura
O 4º artigo da série: ESCRITOS HISTÓRICOS traz uma interpretação do texto Raízes de um Paradigma Indiciário de Carlo Ginsburg traduzido por Federico Carotti

O Italiano Giovanni Morelli descobriu um método indiciário para identificar os verdadeiros autores de obras que estariam sendo expostas em nome de outros autores. Moreli observou que os museus estavam cheios de quadros atribuídos de maneira incorreta a outros autores. Mas devolver cada quadro ao seu devido autor tornou-se uma tarefa quase impossível, e destacar características próprias do autor foi um caminho encontrado por ele para investigar a verdadeira face do autor.
Para tanto, ele procurou não se basear em características comuns e de fácil identificação aos olhos humanos menos atentos e buscou, então, os pormenores menos destacados e observados tanto pelos observadores comuns como também pelos grandes estudiosos de arte. Ou seja, ele resolveu então buscar semelhanças e diferenças nas comparações das artes através das extremidades como orelhas, dedos, unhas, mãos, entre outras partes do corpo menos observadas pelo público genuíno.
A orelha, por exemplo, segundo Morelli, seria uma parte do corpo que funcionava quase como uma digital, para tanto única e intransferível e logo escolheu essa parte do corpo humano como ponto de partida. Esse método de Morelli chegou a ser considerado inapropriado, e cair no descrédito, mas até hoje mudou-se o modo de olhar para um obra de arte e identificar sua autenticidade. As obras de Botticelli, por exemplo, têm características muito peculiares, diferentes das obras de Tarcila do Amaral e Michelangelo.
Ver os indícios possíveis que podem ser traçados pelo autor, que precisamos entender e também contextualizar e descobrir como utilizar os métodos que o autor utilizou e como podemos utilizar também essa microanálise pode ajudar muito a esmiuçar a situação histórica.

Esse método revolucionou inclusive as pesquisas médicas que trabalham na busca da origem dos sintomas através do paradigma indiciário. Assim como as pesquisas histórias com base em estudos do século passado em que era praticamente impossível encontrar documentos confiáveis sobre a origem dos negros trazidos para o Brasil.
No Arquivo Nacional, encontramos uma dezena de Fabrícius com origem do Congo, Nigéria, e até mesmo yorubá, mas sem a definição de país, já que Yorubá trata se de uma região costeira vasta onde fala-se o Yorubá, mas os colonos não sabiam disso e tratavam-nos como se fossem de um país.
No livro ‘O queijo e os vermes” de Ginzburg, o autor trata o contexto histórico da época através de uma paródia do queijo, trazendo a história de um moleiro italiano para o contexto histórico através da micro-história. já no caso do texto dos indícios, os detalhes podem ser a chave para se entender e descobrir muitas coisas. Dentro do setor jurídico também se trabalha com o paradigma indiciário. No artigo 239 é possível ter crime sem corpo, por exemplo, avaliando os indícios. Existe uma linha tênue entre condenar por indícios e ao mesmo tempo, se contrapondo à presunção de inocência, como destacou o juiz Gustavo Direito. Considera-se indício, concluir por indução, a afirmação do fato por várias outras circunstâncias.
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