Japeri e Guapimirim lideram o ranking de homicídios contra a mulher
- Minha Baixada
- 15 de mai. de 2019
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De acordo com o Dossiê Mulher de 2019, do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP), Japeri e Guapimirim têm os maiores índices, passando de 14,2 vítimas por grupo de 100 mil mulheres residentes. Na cidade de Nova Iguaçu, foram registrados 2.571 casos de lesão corporal, perdendo proporcionalmente apenas para o Rio, que registrou 15.429 incidentes. A Baixada Fluminense, em comparação com a Capital, lidera o ranking de taxas de homicídios dolosos, quando há a intenção de matar.
Nos últimos dois anos, o número de feminicídios aumentou na região. De acordo com o delegado da Divisão de Homicídios a Baixada Fluminense, Moysés Santana, o número dobrou em relação ao ano de 2017. Só em 2018, foram 12 casos em comparação ao ano anterior. E, até abril deste ano, foram computados cinco casos. Dos 13 casos ocorridos no Estado, apenas um não aconteceu na Baixada. Os números foram apresentados durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que aconteceu nesta última quarta-feira, dia 08 de maio. Santana ainda anunciou na reunião que, no próximo dia 15 de maio será inaugurado um núcleo de Combate ao Feminicídio dentro da Delegacia de Homicídios da Baixada. Todos os policiais receberão capacitação para atuar no combate a estes crimes. Moysés alerta que o número de feminicídios ainda pode aumentar. O delegado pretende fazer uma varredura nos registros de ocorrência, pois acredita que muitos não foram tipificados ainda.
Para a ex-delegada da DEAM de Nova Iguaçu, Dr.Teresa Pezza, o crescimento do número nas estatísticas sobre a violência contra a mulher é resultado em parte, do maior número de denúncias. Entretanto, mesmo com o crescimento das notificações formais, a subnotificação ainda é um problema. “Tanto a falta de conhecimento em relação aos procedimentos legais, quanto ao medo, o sentimento de vergonha perante amigos e familiares, além do sentimento de culpa e da falta de credibilidade na justiça, ainda são os responsáveis pela ausência ainda significativa das queixas, o que oculta um número real dos casos”, observou. Para a advogada Adiléia Triani, mesmo atualmente sendo uma Ação Pública Incondicionada, ou seja, qualquer pessoa pode denunciar, ainda existem obstáculos para a formalização da Lei.
Japeri promove Semana de Conscientização da Violência Contra a Mulher

A Semana de Conscientização da Violência Contra a Mulher Japeriense foi realizada de 6 a 10 de maio. Baseada na lei municipal 1.284 de 2014, do vereador Hélder Pedro, que cria a Semana Municipal de Combate à Violência Contra a Mulher Japeriense. As plenárias serviram para esclarecer todas as formas legais de acolhimento à mulher, núcleos e redes de atendimento, Lei Maria da Penha, feminicídio, autoestima, empreendedorismo entre outros. O calendário instituído pela lei municipal tem o intuito de instruir através de atividades locais, à mulher japeriense quanto aos seus direitos. Desde sua aprovação em 2014, todos os anos são realizados atividades voltadas para a valorização da mulher.
o evento contou com a presença da ex-delegada titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) de Nova Iguaçu, Dr. Teresa Pezza; da psicóloga especializada em distúrbios alimentares, Cirlene Gomes; da coordenadora do Centro de Atendimento à Mulher (CIAM) de Queimados, Rosane de Almeida, da coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres, também do município de Queimados, Eliana Leôncio; da professora Rosana Louzada, vítima de violência doméstica; João Paulo de Almeida, Padre da Paróquia Nossa Senhora da Conceição; das empreendedoras, Valesca Cristina e Josiane Delfino; Adiléia Triani, advogada com experiência em violência doméstica e, da inspetora geral e comandante da Guarda Municipal do Rio (GM-RJ); Tatiana Mendes.
Violência vivida na pele
A japeriense de 36 anos, professora Rosana Louzada, foi vítima grave de violência. Além de diversas marcas que carrega pelo corpo, parte de sua audição foi perdida em função de diversos socos que recebeu na região. O caso de Rosana foi noticiado pela grande mídia em março deste ano, quando foi mantida presa e torturada por 12 horas dentro da casa de seu ex-companheiro, Davidson Gomes da Silva, pai de seu filho de 11 meses, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Davidson foi preso preventivamente no dia 28 de fevereiro, depois das agressões terem ocorrido na madrugada do dia 18 de fevereiro, e foi acusado pelos crimes de lesões corporais e ameaça. O incidente foi acompanhado pela delegada Fernanda Fernandes, titular da DEAM do mesmo município. Segundo a delegada, Silva é acusado de outros crimes cometidos a outras mulheres. O mesmo atualmente responde pelo crime de lesão corporal leve e corre o risco de ser solto. Toda essa tragédia custou à paz e seu emprego no Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), após seu agressor ter ameaçado a vida de sua colega de trabalho. Ao final de seu depoimento, a docente mostrou medo pela possibilidade de soltura. “Ele vai me matar”. Relatou.
O caso de Rosana é também um exemplo das dificuldades emocionais para a realização da denúncia. Em seu depoimento emocionante e ao mesmo tempo triste, ela descreveu bem a situação de vulnerabilidade da mulher e o porquê que muitas vezes a vítima demora a fazer a denúncia. “Por muitos anos, eu não sabia que estava sofrendo violência doméstica. E quando entendi o que estava acontecendo, sentia vergonha de dizer o que se passava para amigos e familiares, pois me sentia culpada”. E completa “O agressor te faz se sentir culpada”. Louzada já havia sofrido violência psicológica com o companheiro anterior a Davidson. O relacionamento durou 17 anos, e ambos tiveram um filho.
Violência Institucional
Além dessa violência institucional, a mulher ainda está exposta a esse número alarmante de agressões. No estado do Rio, em média 12 mulheres são vítimas de estupro por dia, em sua maioria, menores de idade, e a cada hora, quatro mulheres sofrem algum tipo de agressão. "A mulher japeriense não tem uma maternidade que atenda a demanda local, o próprio atendimento pré-natal, realizado pelo SUS, que prevê consultas gratuitas às gestantes, não é garantido no município. Não existem até então, equipamentos públicos para a realização de exames preventivos, como mamografia para mulheres acima dos 40 anos”. Lembrou o vereador da cidade.
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