Caso de racismo entre docentes da UFRJ
- Dine Estela
- 24 de ago. de 2021
- 5 min de leitura

O Coletivo de Docentes Negras e Negros da UFRJ emitiu nota de repúdio contra práticas racistas que atingiram o professor Wallace dos Santos de Moraes e pede apuração dos fatos e devidas providências.
O coletivo tomou conhecimento de que o professor foi proibido de participar da comissão julgadora do concurso para provimento de vaga de professor adjunto do referido Departamento regido pelo de 2019 MC 06 4. Edital UFRJ nº 953, de 20 de dezembro Em reunião extraordinária do Departamento de Ciência Política da UFRJ, ocorrida no dia 11 de agosto de 2021 às 9:30h, por meio remoto ( https://meet.google.com/pnyudfrqwz ), para escolha da banca examinadora do concurso para provimento de vaga de professor adjunto.
Segundo relato a nota, foram praticadas condutas desrespeitosas em relação ao prof. Wallace de Moraes pelos professores Josué Medeiros, Thaís Aguiar (Chefe de Departamento) e Pedro Lima (Substituto eventual da Chefia), todos do Departamento de Ciência Política da UFRJ.
A nota diz ainda que "Na ocasião, cinco membros do Departamento indicaram o prof. Wallace para participar como membro da unidade da UFRJ na banca de seleção do certame. A escolha se deu em função deste professor possui r conhecimentos acadêmicos e formação na área do concurso. Ademais, é professor Associado II, portanto atende às exigências administrativas e acadêmicas para compor a citada banca. Todavia, nesta reunião, o prof. Josué Medeiros passou a desqualificar a personalidade do professor Wallace, alegando que o mesmo não possuía qualidades para exercer a função de membro de banca de concurso, negando sua participação. Assim, atribuiu ao professor a condição de “brigão, desequilibrado, sem condições emocionais, e que constantemente se vitimizava por ser negro”.
Depois de todos esses ataques discriminatórios, a Chefe do Departamento (prof.ª Thaís Aguiar), bem como seu substituto eventual (prof. Pedro Lima), que dirigiam a plenária, não só não tomaram nenhuma atitude d e repulsa às discriminações, como fizeram questão de apoiar o professor Josué Medeiros em seus argumentos, ratificando que um membro “desequilibrado” não poderia compor a banca do concurso.
Os pronunciamentos de alguns professores em contrário a esses ato s de discriminação com relação ao prof. Wallace, único negro do Departamento, não surtiram efeito e a maioria vetou sua participação na banca. Por que, o professor Wallace, com a qualificação exigida para tal, não foi incluído na composição dessa banca? É importante frisar que supostas valorações subjetivas infundadas acerca de um servidor público não podem servir de impedimento para negar sua participação em uma banca, nem permitir a propagação de injúrias e difamações no âmbito da Universidade.
O professor cumpria todos os requisitos acadêmicos para tal, isto é, atendia às exigências do certame. Ainda assim, seu nome foi preterido para a composição da banca e o Departamento de Ciência Política deliberou por aprovar uma comissão julgadora composta inteira mente por nomes externos à UFRJ. Professor Wallace de Moraes, o único docente negro do Departamento, com competência para exercício da atividade, sofreu além disso, ataques
pessoais desferidos pelo professor Josué Medeiros. Este professor questionou a capa psicológica de Wallace e apresentou como justificativa à interdição de seu nome a alegação de que Wallace se “vitimizava” por ser negro, fazendo referência pejorativa a importantes debates levantados pelo professor sobre o racismo estrutural no Brasil. Argumentos desqualificadores e as tentativas de frear a voz de quem se coloca na luta contra o racismo como a vivida pelo professor Wallace de Moraes embora frequentemente silenciados por quem sofre essas agressões, são corriqueiros nas Instituiçõe Superior, vitimando docentes, funcionários terceirizados, técnicos de Ensino administrativos e discentes. Já foi o tempo do silêncio. É preciso dar um basta. Não ficaremos mais calados. Quando se tem em mente que o institucional racismo estrutural, agravado na sua mani festação , ao se tomar conhecimento de qualquer situação de discriminação, a autoridade pública deve atuar no sentido de averiguar a realidade dos fatos com os mecanismos administrativos existentes e aplicáveis para tanto e imediatamente adota r atitudes adequadas contra quem foi o causador dessa situação.
Nesse sentido, o Coletivo de Docentes Negras e Negros da UFRJ, diante da evidência de RACISMO e DESQUALIFICAÇÃO pessoal do professor Wallace de Moraes, torna indispensável a presente manifest ação em sua defesa e de todos os demais docentes negras e negros, que são atingidos indiretamente pelo acontecimento. Fazemos isso a partir de valores de colaboração, solidariedade, reconhecimento e respeito às diferenças. Em defesa da vida, da dignidade e de direitos arduamente conquistados, irrenunciáveis e inegociáveis por uma sociedade livre do racismo que tem nos afetado moral, emocional, física, cultural, política e economicamente. Dessa forma, sendo implementadas condutas específicas pelo docente que foi alijado na situação ocorrida no Departamento de Ciência Política do IFCS/UFRJ", observa s nota.
O coletivo pede medidas efetivas de combate a esse tipo de prática tida como "corriqueira" na instituição. "Vem este Coletivo se solidarizar com o mesmo e também requerer que sejam implementadas as devidas condutas investigativas e de verificação verificados pela Administração Superior da UF RJ, bem como pela Direção do IFCS/UFRJ, para que seja levantada a realidade dos fatos ocorridos e, em sendo os fatos apontados aqui como RACISMO e/ou DISCRIMINAÇÃO/DESQUALIFICAÇÃO, que possam ser tomadas as medida legais e administrativas cabív eis para a punição dos autores do fato, dentro das regras que balizam a vida acadêmica da UFRJ. Importa, por fim, destacar que a Resolução Consuni 15/2020 estabelece a necessária recomendação quanto à diversidade de raça e gênero em comissões julgadoras de concursos. As mudanças históricas e sociais no aspecto do RACISMO ESTRUTURAL e INSTITUCIONAL precisam ser objeto de adequada verificação, pois a extirpação dessas condutas deletérias de racismo não se faz apenas com denúncias ou com repúdio moral ao crime de racismo: depende, antes de tudo, da tomada de posturas efetivas, implementação de políticas públicas eficazes e da adoção de práticas antirracistas que estejam presentes em todos os aspectos das relações de poder que existam na estrutura da Universidad e. Portanto, nós, Coletivo de Docentes Negras e Negros da UFRJ, conclamamos os mais diversos segmentos da UFRJ a reafirmarem o compromisso com a resistência e a luta antirracista, pois não somos e não seremos coniventes com posturas que ferem os direitos da pessoa humana, que ferem a nossa Constituição, o Estatuto do Servidor Público, fomentando se práticas que fogem ao interesse público, ao respeito à diversidade, à pluralidade, mantendo se práticas que têm produzido assimetrias e desrepeitos aos mais sub-- limes preceitos de igualdade, respeito e convívio urbano no interior da nossa Instituição. Não aceitaremos!
Seguimos enfrentando as opressões que produzem desigualdades que atingem diretamente nossas existências. Sendo assim: por que o professor Wallace, c incluído na composição dessa banca? om a qualificação exigida para tal, não foi Rio de Janeiro, 23 de Agosto de 2021 Coletivo de Docentes Negros e Negras da Universidade Federal do Rio de Janeiro". Finaliza.
O coletivo também abriu uma petição pública para que todos possam colaborar assinando em favor desta investigação e para que as devidas providências sejam tomadas. A petição pode ser acessada e assinada no endereço eletrônico: https://secure.avaaz.org/community_petitions/po/universidade_federal_do_rio_de_janeiro_investigacao_de_caso_de_racismo_ocorrido_no_departamento_de_ciencia_politica_ifcs_ufrj/?zYbEBsb
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